quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mangueira é o novo "quartel-general" da maior facção criminosa do rio,diz polícia


 

Topografia e localização favorecem o refúgio de traficantes do Complexo do Alemão
Do R7 | 20/04/2011 às 10h00
Carlos Moraes / Agência O Dia
Carlos Moraes / Agência O Dia
Topografia do morro da Mangueira dificulta operações policiais
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Após a ocupação dos complexos de favelas do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, em novembro passado, a Mangueira passou a ser o novo quartel-general da maior facção criminosa do Estado. O morro da zona norte foi ocupado pelos principais chefes do grupo que antes moravam nos territórios atualmente ocupados pela Força de Pacificação do Exército.
A favela controlada pelo traficante Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que conseguiu escapar da ocupação do Alemão, teria recebido inclusive um dos criminosos mais procurados do Estado Fabiano Atanásio da Silva, o FB, que comandava o crime na Vila Cruzeiro, na Penha. Quanto a Pezão, chefe do Complexo do Alemão, a polícia recebeu informações de que ele poderia estar no Paraguai.
Um indício da circulação de criminosos na região foi o aumento do número de roubos de carros na região da Mangueira entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011. Foram registrados 12 roubos de carros no último mês do ano passado contra 28 veículos roubados no primeiro mês deste ano.
De acordo com policiais ouvidos pelo R7, outras duas favelas consideradas estratégicas pela quadrilha estavam cotadas para ser a nova base da facção: o Parque União, no Complexo da Maré, e o morro do Fallet, em Santa Teresa, ocupado recentemente por uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Apesar de ter sido considerada a comunidade mais lucrativa individualmente para esse grupo criminoso, o morro do Fallet está ocupado pela PM. Já o Parque União é uma favela plana, o que não agrada os traficantes, porque consideram que a topografia de um morro, como a Mangueira, facilita a observação da região e dificulta o trabalho da polícia durante operações.
No Parque União, estariam traficantes ligados a Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, líder da facção, que está preso em Mossoró (RN). No último fim de semana, a Polícia Federal fez uma operação na comunidade para prender o traficante Marcelinho Niterói, homem de confiança de Beira-Mar, responsável pelas finanças da quadrilha.
Na Mangueira também estariam escondidos os traficantes conhecidos como Biscoito, que, ao lado de bandidos do morro do Cajueiro, liderou várias tentativas de invasão ao morro da Serrinha, em Madureira, na zona norte do Rio, e o traficante conhecido como Marreta, que estaria administrando a venda de drogas no Alemão e na Penha, mesmo ocupados pelo Exército.
Outro ponto favorável à Mangueira é a localização em uma região central da zona norte, próxima a bairros importantes, como Tijuca, Maracanã, Méier e São Cristóvão, o que facilita a distribuição de drogas para as demais favelas da facção, e também perto do centro da capital fluminense.
Assim que houve a ocupação no Alemão e na Penha, muitos traficantes evitaram migrar para a Mangueira porque havia a expectativa de que a comunidade recebesse uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Ano passado, o governador Sérgio Cabral chegou a anunciar que a favela receberia uma UPP até o fim do ano, mas a tomada dos dois complexos mudou os planos da Secretaria de Segurança Pública, que vai contar com um efetivo de aproximadamente 2.500 policiais para a Penha, o Alemão, e o São Carlos, no Estácio, faltando policiais para outra unidade.
Há previsão para que a Mangueira receba uma UPP, mas isso só deve acontecer em 2012. A proximidade com o estádio do Maracanã, que vai sediar jogos da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, também favorece a pacificação da região. Além disso, seria fechado um corredor de comunidades pacificadas, que inclui as favelas da Tijuca e do Engenho Novo, assim como as da região central da cidade.
Favela do Rola também abriga traficantes do Alemão
Ainda sem um destino definido, parte dos traficantes que ocupavam os complexos de favelas do Alemão e da Penha está migrando para favelas de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, principalmente para as comunidades do Rola e de Antares, dominadas pela mesma facção que tinha o Alemão como sua principal base.
De acordo com o comandante do Batalhão de Santa Cruz (27º BPM), tenente-coronel Danilo Nascimento, a unidade tem recebido denúncias a respeito do aumento de traficantes na região. Na última semana, houve um intenso tiroteio entre traficantes do Rola e PMs. Um homem foi preso.
- Essas favelas são dominadas pelo mesmo grupo que controlava o Alemão. É possível que eles estejam buscando refúgio por aqui. Tanto o Rola quanto Antares são comunidades muito grandes.
Outro fator que pode ter levado os traficantes para a região é a ausência de uma UPP na área. Das 16 unidades já instaladas, apenas duas ficam na zona oeste do Rio - uma na Cidade de Deus (Jacarepaguá) e outra no Jardim Batan (Realengo), que era dominada por uma milícia.
No último dia 1º de abril, a PM prendeu o traficante Leandro Pereira da Silva, o Léo do Rodo, gerente do tráfico no Rola. Ele foi flagrado com um fuzil. Um dos chefes da facção, conhecido como Macarrão, no entanto, ainda estaria escondido na região. Ele abandonou a perna mecânica durante a ocupação do Alemão, em novembro passado.
Em setembro de 2010, uma guerra entre facções rivais pelo controle das bocas de fumo aterrorizou os moradores da comunidade do Rola. Creches e escolas ficaram fechadas por causa dos tiroteios, que duraram mais de uma semana.

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