Ao R7, militar relatou como têm sido os dias de reclusão
Felipe de Oliveira, do R7 | 07/06/2011 Os 439 bombeiros presos após invadirem sexta-feira (3) à noite o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, no centro do Rio, estão dormindo em colchonetes espalhados em uma quadra esportiva do quartel de Jurujuba, em Niterói, região metropolitana do Rio, e dividindo dois banheiros.
Levados para a unidade no sábado, eles reclamam que a quadra improvisada como presídio está superlotada. Ao R7, o bombeiro Luciano Cunha, do Grupamento Marítimo de Botafogo (1ºGMar), contou por telefone como têm sido os último dias.
- Esse lugar não tem capacidade para suportar nem cem pessoas, graças a Deus nossos companheiros são muito solidários. Conseguimos colchonetes suficientes e todos tiveram um para dormir, mas estamos sendo mantidos na quadra que é muito apertada. A situação está difícil. São mais de 400 homens dormindo em uma quadra pequena, dividindo dois banheiros e um fogão para cozinhar.
Luciano também lamentou que as tentativas de negociação tenham chegado a esse ponto.
- Estamos nos tratando como bandidos. Esperávamos mais respeito. Não fizemos nada de errado. Apenas estão lutando por um direito. Há semanas tentamos uma negociação em vão. Até agora não entendemos porque usaram mais bombas e deram até tiros de fuzil e de pistola.
Entenda o caso
Por volta das 20h da última sexta-feira (3), cerca de 2.000 bombeiros - muitos acompanhados de mulheres e crianças - ocuparam o Quartel Central da corporação, no centro do Rio de Janeiro. O protesto, que havia começado no início da tarde em frente à Alerj (Assembleia Legislativa), durou toda a madrugada.
A principal reivindicação da categoria é aumento salarial de R$ 950 para R$ 2.000 e vale-transporte. A causa já motivou dezenas de paralisações e manifestações desde o início de abril. Seis líderes dos movimentos chegaram a ser presos administrativamente em maio, mas foram liberados.
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Veja o momento que o Bope invade o quartel
Diante do clima de tensão no Quartel Central, repetidos apelos feitos pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, para que os manifestantes retornassem às suas casas foram ignorados e bombeiros chegaram a impedir que colegas trabalhassem diante dos chamados de emergência. A PM, então, com auxílio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), invadiu o complexo às 6h de sábado (4). Houve disparos de arma de fogo, acionamento de bombas de efeito moral e confrontos rapidamente controlados. Algumas mulheres e crianças ficaram levemente feridas e foram atendidas em postos no local.
Os bombeiros foram levados presos para o Batalhão de Choque, que fica nas proximidades. De lá, 439 foram transferidos de ônibus para a Corregedoria da PM, em São Gonçalo, região metropolitana do Estado, onde passaram a madrugada de domingo (5). Durante a manhã, eles foram novamente transferidos, só que para o quartel do bairro Charitas, em Niterói, também na região metropolitana.
Visivelmente irritado com o "total descontrole", o governador Sérgio Cabral anunciou no sábado, após reunião de cerca de cinco horas com a cúpula do governo, a exoneração do então comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Pedro Machado. O cargo passou a ser ocupado pelo coronel Sérgio Simões, que era subsecretário de Defesa Civil da capital fluminense.
Cabral disse que não negocia com "vândalos" e "irresponsáveis", alegou que os protestos têm motivação política e se defendeu dizendo que o governo tem planos de recuperação salarial para todos os militares desde 2007. Segundo ele, com todas as bonificações e reajustes previstos, até o fim do ano, os bombeiros terão um salário muito próximo ao que é reivindicado.
Os bombeiros presos serão autuados em quatro artigos do Código Penal Militar: motim, dano em viatura, dano às instalações e por impedir e dificultar a saída para socorro e salvamento. A pena para estes crimes varia de dois a dez anos de prisão. Inconformados, alguns iniciaram greve de fome como mais uma forma de protesto.
Apesar das baixas, o comando-geral do Corpo de Bombeiros informou que a rotina de atendimento à população está mantida e que os substitutos dos bombeiros presos assumiram seus postos.
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