Carlos Calaes - Repórter - 17/05/2011 - 03:55
EMANNUEL PINHEIRO
Militar ameaçado e a mulher tiveram a casa reduzida a um monte de escombros por traficantes
Um total de 138 policiais militares, bombeiros, policiais civis e agentes penitenciários, juntamente com seus familiares, que estiveram ou ainda estão sob ameaça de morte ou vingança em função do trabalho que realizam, têm mais um motivo de preocupação. Além da tensão diária em relação à segurança e integridade física de seus familiares, agora eles correm o risco de serem despejados dos apartamentos onde moram.
Vindos de várias partes da capital mineira e cidades da Região Metropolitana, onde prenderam criminosos, esses servidores e familiares acabaram nas listas de morte de seus desafetos. Em 2006, o governo mineiro criou o Programa Lares Geraes, quando adquiriu apartamentos funcionais para alocar esses servidores ameaçados. Desde então, eles deixaram para trás suas residências, muitas delas em aglomerados e favelas, e se transferiram para esses apartamentos.
Com o prazo de dois anos iniciais vencidos e já prorrogados por igual período, agora esses servidores estão recebendo notificações da Justiça para deixar os imóveis. O problema é que a maioria deles alega que as ameaças persistem e eles não têm para onde ir.
A situação é mais dramática para os 90 militares e bombeiros e três investigadores da Polícia Civil que, há quatro anos, ocupam apartamentos no Condomínio Residencial das Américas, no Bairro Betânia, Oeste de Belo Horizonte.
Até agora, pelo menos 30 militares já receberam ordem de despejo determinado pelo Comando Geral da Polícia Militar.
Um dos casos mais dramáticos é de um cabo que, em represália ao seu trabalho, teve um irmão e uma cunhada executados por traficantes do Morro das Pedras.
Com medo, o militar e sua mulher tiveram de abandonar a casa, que foi totalmente destruída pelos traficantes. O casal cria a sobrinha, que presenciou o crime e, até hoje, não se recobrou psicologicamente.
Outro caso terrível é de um policial militar que teve o filho de 11 anos sequestrado, torturado e morto por traficantes. Não satisfeitos, os assassinos removeram os olhos do menino e queimaram o corpo. Diversos militares alegaram que tiveram de abandonar suas casas para não serem mortos.
Na segunda-feira, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, deputado Durval Ângelo (PT), o deputado Sargento Rodrigues (PDT) e o presidente da Associação dos Praças, Policiais e Bombeiros Militares (Aspra), subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, estiveram no local para tentar acalmar os militares que estão sob risco de despejo. Ângelo disse que deverá solicitar ao Governo do Estado que prorrogue a cessão dos imóveis funcionais para as famílias que ainda permanecem em risco ou não têm alternativa de moradia.
O tenente-coronel Alberto Luiz Alves, porta-voz da PM, disse que o decreto precisa ser cumprido. Ele admitiu que cada caso será submetido a uma sindicância. Segundo ele, durante esse tempo, os militares tiveram tempo para procurar o programa Pró-Morar, que permite comprar um imóvel a uma taxa de juros de 2,5% ao ano com comprometimento de até 30% da renda.
Por sua vez, os militares alegam que não têm condições financeiras para ingressar no programa.
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