sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Preso por torturar namorada


Pintor usou faca quente para forçar mulher a confessar suposta traição
Publicado no Super Notícia em 25/11/2011
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KARINA ALVES
karina@otempo.com.brFOTO: CHARLES SILVA DUARTE
Antônio Augusto dos Santos não demonstrou arrependimento
No Dia Internacional de Luta Contra Violência à Mulher, comemorado hoje, o drama vivido pela dona de casa Sabrina Regina dos Anjos, de 25 anos, ilustra a triste estatística de mulheres vítimas de violência doméstica. Há pelo menos uma semana, a jovem teria sido mantida em cárcere privado e torturada pelo namorado, com quem morava junto há três meses, no bairro Cascalho, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte.

Segundo a Polícia Militar, o pintor Antônio Augusto dos Santos, de 28 anos, preso ontem em flagrante, trancava a mulher em casa de madrugada e a queimava com uma faca de cozinha quente, por desconfiar de uma suposta traição.

De janeiro a outubro, dados levantados pelo Centro Risoleta Neves de Atendimento (Cerna) revelam que o número de mulheres que buscaram ajuda contra a violência doméstica aumentou 113%. Foram 401 atendimentos, contra 188 registrados no mesmo período de 2010.

O caso de Sabrina só chegou ao conhecimento das polícias Militar e Civil na madrugada de ontem, depois que a mãe da vítima, Mara Regina Diniz, de 51 anos, procurou a PM para denunciar a situação em que a filha estava. "Há três dias eu comecei a desconfiar que algo estava errado. Ela só usava calça e blusas de mangas compridas e ficava me evitando, até que tomou coragem de me mostrar os machucados", disse. Nas pernas e nos braços, a jovem apresentava hematomas e queimaduras.

Na delegacia de Nova Lima, sem demonstrar arrependimento, o pintor assumiu que bateu e queimou a namorada com faca quente. "Fiz por revolta. O filho dela, de 4 anos, falou que a viu com outro homem. Queria que ela confirmasse o que ele me contou", justificou.

A jovem não quis conversar com a reportagem, mas teria dito à polícia que a versão dele seria para justificar o fato de agredi-la quando estava sob efeito de crack. Tanto a vítima quanto a mãe, que é servidora do Centro de Referência à Mulher de Nova Lima, tinham receio de denunciar. "Tinha medo dele e não queria misturar minha vida com meu trabalho, mas chegou em um ponto que não aguentei", afirmou. Surpresa com o crime, a coordenadora do centro esteve no local para dar apoio. 
FOTO: CHARLES SILVA DUARTE
MINIENTREVISTA
´Ele esquentava a faca até ficar vermelha´
sargento Gilvan ferreira souza
policial militar que esteve na casa da vítima

Qual foi a situação que o senhor encontrou? 
Fui até a casa da vítima depois de uma denúncia da mãe dela. O suspeito foi quem atendeu a porta e encontramos a Sabrina muito machucada.

Ela contou o que aconteceu? Na frente do namorado ela o defendeu, disse que a mãe estava se metendo na vida dela. Percebemos que estava acuada e a questionamos longe dele, então ela resolveu contar o que aconteceu.

O que ela contou? Disse que ele já a agredia desde agosto, mas que a situação piorou há uma semana. Ela contou que ele a deixava trancada dentro de casa e que chegava de madrugada agredindo-a. Apreendemos uma faca de cozinha que ele esquentava até ficar vermelha e encostava na pele dela. Nas pernas e nos braços ela tinha queimaduras graves.
FOTO: CHARLES SILVA DUARTE
Mara Regina desconfiou do comportamento da filha
Violência gera doença
A psicanalista Soraya Hissa, especialista em atendimento a vítimas de violência doméstica, salienta que, na maioria dos casos, a mulher agredida demora a assumir o que está passando. "Ela coloca a culpa na escada, diz que bateu a cabeça em algum lugar, mas nunca assume que foi agredida. Isso acontece por vários motivos, pode ser por um amor doentio, por medo ou pela vergonha de explicar a situação para a família", explicou.

Segundo ela, se a vítima não passar por tratamento, as agressões sofridas podem resultar em transtornos graves de personalidade. "A mulher que sofre violência doméstica pode desenvolver síndrome do pânico, depressão profunda e até idealizar o suicídio". (KA)
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