Carlos Rhienck/Hoje em Dia
Detentos fazem reféns e queimam colchões em rebelião na penitenciária Nelson Hungria
Detentos sobem no telhado durante rebelião na Penitenciária Nelson Hungria

Uma audiência criminal precisou ser interrompida, na tarde desta segunda-feira (6), depois que o réu tentou agredir a própria advogada, no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Daniel  Augusto Cypriano, de 30 anos seria interrogado, na 9º Vara Criminal, suspeito de ser autor de um roubo na capital. Cypriano foi o líder de uma rebelião, em fevereiro de 2013, na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem, na região Metropolitana da capital.
 
De acordo com a assessoria de imprensa do Fórum Lafayette, Cypriano chegou à audiência sem advogado. Porém, como os réus somente podem ser interrogados na presença de um defensor, uma advogada foi nomeada pela juíza Neide da Silva Martins, responsável pelo caso. 
 
Devido à situação, a juíza permitiu que Cypriano conversasse com Fernanda Bouchardet, advogada nomeada para defendê-lo, antes do início da audiência. Segundo o Fórum Lafayette, o réu teria pedido para falar a sós com Fernanda, mas o pedido foi recusado. Os dois conversaram na presença de três policias, que fizeram a escolta.
 
Cypriano estava com as mãos algemadas para trás, mas conseguiu se soltar com um objeto de metal. Os policias, porém, não perceberam o ocorrido, pois o réu estava com as mãos encostadas na parede e fora do campo de visão deles. 
 
Em um momento de distração, Cypriano avançou sobre Fernanda tentando agarrá-la pelo pescoço. A ação foi, contudo, rapidamente contida pelos policiais e a advogada não ficou ferida. Conforme o Fórum Lafayette, Cypriano tinha a intenção de fazer a advogada refém e conseguir fugir. 
 
Por causa do incidente, a audiência foi interrompida por alguns minutos. Depois que Cypriano pediu desculpas à Fernanda, e a mesma não se opôs em continuar defendendo o réu, a juíza deu prosseguimento ao interrogatório. 
 
De acordo com o próprio Cypriano, ele estava preso e foi condenado há mais de 80 anos de prisão por vários crimes. 
 
Rebelião na Nelson Hungria
 
Cypriano, conhecido como "Carioca" e “Snap", foi o líder de uma rebelião que durou mais de 30 horas, nos dias 21 e 22 de fevereiro de 2013, no Pavilhão 1 da penitenciária Nelson Hugria, em Contagem. 
 
Durante uma aula, os presos renderam o agente penitenciário Renato André de Paula e a professora Eliana da Silva. Cerca de 100 presos participaram do movimento.
 
Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), os detentos envolvidos na rebelião ficaram sem água e luz desde o início da revolta. Eles também não se alimentaram durante a rebelião. Duzentos e dez militares e 30 agentes penitenciários do Comando de Operações Especiais (Cope) foram envolvidos na ação e todos os pavilhões da penitenciária foram cercados.
 
Durante a noite de 21 de fevereiro, um ônibus foi queimado no Anel Rodoviário de BH. Um bilhete com as inscrições "Opressão ao Sistema" foi encontrado dentro do coletivo, o que reforça a hipótese de que o incêndio tenha sido orquestrado por cúmplices dos detentos rebelados que também escreveram a mesma palavra no pátio do pavilhão na manhã de 22 de fevereiro.
 
Após horas de negociações, dois presos rebelados se reuniram, por aproximadamente uma hora e meia, com o Comitê e chegaram a um acordo que foi aprovado pelos demais detentos. Um dos pontos deste acordo, é que a os presos teriam sua integridade física garantida. 
 
Além disso, ficou definido que a visitação de mulheres grávidas voltaria a ser permitida. Até então, as visitas eram restritas e monitoradas por agentes penitenciários, o que também foi motivo da revolta dos detentos. Na época, a Seds garantiu ainda que nenhum dos rebelados seria transferido para outra unidade prisional.
 
Segundo a Seds, Cypriano é de Conselheiro Pena, tem pelo menos seis condenações, sendo cinco por roubo e uma por homicídio e cumpre pena na Nelson Hungria desde agosto de 2011.