domingo, 7 de agosto de 2011

Falta de estrutura reflete no comportamento dos delegados em Minas










Por MGTV TV Integração
de Bom Despacho

PRÉDIOS CAINDO AOS PEDAÇOS, PRESOS ACORRENTADOS E SEM NENHUMA ESTRUTURA OU SEGURANÇA AJUDAM NA SITUAÇÃO
Esta semana o MGTV 2ª Edição mostrou a situação precária de várias cadeias em Minas Gerais. Prédios caindo aos pedaços, presos acorrentados e sem nenhuma estrutura ou segurança. Essa é apenas uma de muitas situações graves enfrentadas diariamente pela Polícia Civil do estado. E essa falta de estrutura reflete no comportamento dos delegados. Por ano, 15 profissionais da categoria se aposentam antecipadamente. O motivo: estresse. As investigações acumulam. “Em torno de 350 inquéritos e 850 diligências preliminares”, diz o delegado de Bom Despacho, Magno César Silva.
E a cada dia surgem 20 novos inquéritos. O acúmulo de trabalho fez que com Magno pedisse antecipadamente a aposentadoria. “Acho que poderia ficar mais tempo oferecendo meu trabalho. Mas o volume de serviço, a pressão dos órgãos, a defensoria pública e o poder judiciário sobre a Polícia Civil é muito grande. Eles não analisam o volume de trabalho que temos”, explica o delegado.
Em Minas Gerais, segundo o sindicato da categoria, 15 delegados pedem exoneração do cargo todo ano e pelo menos o triplo se afasta por estresse. Para compor o quadro seriam necessários pelo menos 1.000 delegados. Isso sem falar dos outros profissionais. Na regional de Bom Despacho, responsável por 22 municípios do Centro-Oeste, o retrato do que acontece no interior do estado. “Contamos só com 114 policiais, isso entre delegados, médicos legistas, investigadores e escrivãs. Precisaríamos de no mínimo o dobro para atender a contento as investigações”, afirma o delegado regional Célio de Assis.
Situação crítica
Dos municípios mineiros, 60% não têm Policia Civil e apenas 67 delegacias regionais funcionam 24 horas para atender a demanda de todos os 853 municípios do estado. Nos plantões a noite e nos fins de semana a situação é ainda mais crítica.
Apenas um delegado fica responsável por todas as ocorrências de 22 cidades da região que, juntas, tem uma população de 360 mil habitantes. Detalhe: alguns municípios estão há 200 quilômetros de distância.” A Polícia Civil acaba ficando capenga porque  devido à falta de pessoal não consigo levar adiante. Temos que escolher o caso que vai ser investigado porque é humanamente impossível investigar todos. O que significa mais uma pessoa, mais um criminoso impune na sociedade, causando danos as famílias”, conta o presidente regional do sindicato de policiais civis, Experidião Porto.
A falta de pessoal é tanta que muitos, em alguns casos a maioria dos funcionários são cedidos pelas Prefeituras. Uma ajuda que interfere na autonomia da polícia. A secretária voluntária Maria de Lourdes Elias decidiu ajudar. Mesmo com dificuldade, sobe todos os dias três andares. A aposentada de 74 anos é asmática. Depois que recupera o fôlego, trabalha como secretária de graça.
E trabalho é o que não falta. Além das investigações, em Minas Gerais a Polícia Civil é responsável por 160 cadeias. A maioria das cadeias que fica no mesmo prédio das delegacias está em condições precárias.
Patos de Minas
Em Patos de Minas, o casarão de quase 100 anos não oferece nenhuma estrutura. Mesmo assim, no local funciona a Delegacia de Furtos e Roubos e também o plantão policial. Os presos ficam algemados em uma corrente.
Carmo da Mata
Na cidade de Carmo da Mata as fugas na casa de Adobe construída há 70 anos, são constantes. Apenas ferros separam o corredor da rua e as janelas não podem ser fechadas porque são a única entrada de ar e de luz para os 12 presos e o carcereiro.
Uberlândia
Em Uberlândia, mais um exemplo da precariedade. A delegacia regional do bairro Umuarama esta sempre lotada. Como não tem cadeia, os presos são trazidos para o local e ficam amontoados em uma sala. Alguns deitam no chão. A sujeira é grande. A PM ajuda a reforçar a segurança. Segundo eles, são as famílias que levam os alimentos para os presos. A dificuldade é ainda maior para usar o banheiro. Os policiais escoltam os presos, algemados até a lanchonete que fica em frente.
E em muitas cidades sequer tem cadeia. Nestes casos os presos são levados para as cidades mais próximas. Algumas há 100 quilômetros, distância que impede a dona de casa Maria das Graças Cordeiro de visitar o filho preso na cidade de Cláudio, mas que está em São José de Bicas. O mesmo problema do cliente do advogado Iracy Bicalho. O homem preso em flagrante com aves silvestres ficará sem defesa.
A assessoria da Secretaria de Defesa Social informou que o governo já abriu edital para concurso para delegado e escrivães que deve ocorrer até o fim do ano. Mas neste não há vagas para Bom Despacho. No concurso são apenas 144 vagas para delegado, ou seja pouco mais de 10% da quantidade sugerida pelo sindicato da categoria.

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